18 junho 2013

A democracia brasileira é uma criança


Havia crianças na concentração para o protesto desta segunda-feira no largo da Batata, em S. Paulo. Diante do ocorrido na semana passada, podia-se pensar que era uma irresponsabilidade, mas a sensação geral era de paz e as mães cuidavam de vestir e maquiar os filhos com as cores do Brasil. 

A polícia apenas protegia as áreas das intermináveis obras do largo para que a multidão não transformasse entulhos e material de construção em armas. Fazia o que dela se espera, garantindo a ordem pública e a liberdade de expressão. 

Os manifestantes, em sua imensa maioria estudantes, logo deixaram clara sua insatisfação com a condução da coisa pública no país. As bandeiras que flamulavam no miolo da concentração motivaram os primeiros gritos contrários aos partidos políticos. Sem polícia e sem partido, a multidão seguiu pela Faria Lima com destino incerto. 

Ouviram-se gritos contra o aumento das passagens, contra a presidenta, contra a Pec 37, contra a Rede Globo, o prefeito, José Luiz Datena e a polícia. Não houve pichação, quebradeira ou violência. E logo se notou a coincidência de não haver policiais por perto. 

Também foram distribuídos panfletos anônimos contra os gastos de dinheiro público com as copas, contra a corrupção, a favor do porte de armas, da prisão perpétua etc. etc. Centenas de cartazes ilustravam as insatisfações e lembravam episódios vergonhosos e impunes como o massacre do Carandiru. 

Tudo é do jogo, mas, se por um lado chamava a atenção o número de pessoas, estimado em cerca de 65 mil, por outro impressionava a amplitude da insatisfação. Era tamanha que não se sabia para aonde ir. E os destinos da passeata foram se dividindo em direções opostas.  

Um dos achincalhados, o comentarista político Arnaldo Jabor, tinha revisto a avaliação inicial negativa que fizera do movimento Passe Livre e, desde de manhã, louvava a causa, não sem alertar para o perigo do vazio das manifestações.

De fato, diante de tantas aspirações genéricas, a sensação é de que a coisa se esvazia, mas não se enganem. Há, sim, um grito e ele é fundamentalmente contrário à velha política. Ainda não se sabe qual é a nova. Uma coisa, porém, é certa: ela começa quando o povo vai às ruas.

Um comentário:

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