30 novembro 2011

Diploma, obrigado

Vejo que o Senado Federal aprovou em primeiro turno uma Proposta de Emenda Constitucional favorável à obrigatoriedade do diploma de jornalismo para o exercício da profissão. Como tenho deparado com o tema ao longo dos últimos anos vou expor o meu ponto de vista. Sou jornalista formado, mas durante muito tempo trabalhei como jornalista com o meu diploma de comunicação em Rádio e TV.

Sou, e quero deixar isso bem claro, totalmente contrário à obrigatoriedade do diploma de jornalismo para o exercício da profissão. Acho a faculdade de jornalismo ou a formação superior num curso de ciências sociais ou humanas fundamentais para o desenvolvimento do jornalista e do jornalismo. Foi por esse motivo que voltei para os bancos da universidade em busca do meu diploma no curso.

Não acredito no Senado Federal, acho que já há algum tempo a casa chegou a um ponto de desmoralização que torna possível a discussão de sua necessidade para a nossa República, mas isso é outra história. Agora, na Constituição Federal eu acredito e me sinto até constrangido de imaginar que um dia a Carta Magna do país possa trazer, entre direitos e garantias fundamentais, a obrigatoriedade do diploma de jornalismo para o exercício da profissão.

O jornalismo é uma atividade liberal que independe e deve independer de uma garantia do Estado. O mercado do jornalismo no Brasil é injusto e desigual para o trabalhador jornalista não porque há profissionais não diplomados exercendo a profissão, mas porque os jornalistas que a exercem – formados ou não – não foram capazes até hoje de criar uma associação sólida e confiável capaz de tornar o mercado mais digno e fazer frente aos empresários da comunicação, aqueles que sempre deram as cartas.

Imaginar que a obrigatoriedade do diploma, como foi durante quase quarenta anos, vai melhorar o padrão do nosso jornalismo é no mínimo ingênuo. Como é ingênuo imaginar que a não obrigatoriedade vai acabar com a necessidade pessoal do curso superior e da especialização. Como se de uma hora para outra o mercado passasse a aceitar aventureiros que não sabem escrever e não têm diploma no lugar daqueles apaixonados que investiram e se especializaram na área.

Além disso, acredito que a não obrigatoriedade pode contribuir para o desaparecimento daquelas faculdades caça-níqueis que existem justamente porque um dia um governo, por acaso o militar, tornou a necessidade do diploma obrigatória. 

29 novembro 2011

Mark Twain


Abro a página do Google e vejo que hoje é o 176º aniversário de Mark Twain. Como este blog tem um fundo memorialístico e, por que não dizer, bibliográfico (sem jamais querer ser pretensioso), vou falar um pouco sobre Samuel Langhorne Clemens.

Mark Twain foi o pseudônimo definitivo adotado por esse americano nascido no povoado de Florida, no Missouri (sem relação com o estado). O nome era a apropriação de um termo náutico utilizado por pilotos de barco a vapor do rio Mississipi, uma das muitas profissões que Twain exerceu ao longo de sua vida. Conhecido pelo humor e inteligência, deixou ao menos dois personagens inesquecíveis, Tom Sawyer e Huckleberry Finn. Ambos aparecem nos livros “As Aventuras de Tom Sawyer”, de 1876, e depois em “Aventuras de Huckleberry Finn”, de 1884. Este último é considerado um marco da literatura estadunidense. Graças a ele, Twain é tido por muitos, como William Faulkner por exemplo, o “pai da literatura americana”.

Lembro até hoje quando meu pai me deu de presente “As Aventuras de Huck”, uma edição da Moderna com uma convidativa capa dura que trazia o escravo Jim e o garoto Huck correndo. Foi o primeiro livro que eu li. Eu tinha por volta de dez anos e não o li sem dificuldade. Eu fiquei maravilhado com aquelas aventuras vividas por um garoto como eu e um escravo que, entre outras coisas, navegavam o Mississipi numa jangada que eles mesmos construíram.

Pouco tempo depois, num sábado, enquanto passávamos o fim de semana na casa dos meus avós, meu pai, sempre ele, me avisou que a tevê iria passar o filme baseado no livro. Nunca mais revi esse filme, mas nunca vou me esquecer dele nem que o vi sentado numa das poltronas daquela saudosa casa de Itu. Alguns anos mais tarde, eu comprei uma adaptação em quadrinhos de “Tom Sawyer” e li o livro numa edição emprestada da biblioteca do “Estadão”.

Ambos os livros estimularam e, é claro, estimulam a imaginação de centenas de milhares de jovens ao redor do mundo. É triste pensar que “Huckleberry Finn”, especialmente, tem sido alvo de críticas que o acusam de racista e que algumas edições americanas da obra omitem os capítulos que contêm palavra “nigger” quando se refere a Jim. E antes de qualquer confrontação ao que estou dizendo apenas recomendo a leitura. Monteiro Lobato, outro que sofre com acusações de racismo, foi um dos que o traduziram.

Costumamos acumular e colecionar muitas coisas ao longo da vida, mas se eu fosse obrigado a me desfazer de tudo, mantendo apenas um dos meus objetos, eu escolheria aquele livro. Outro dia, folheando-o, encontrei entre suas páginas uma folha em que eu datilografei com a velha Lettera 22 do meu pai uma pequena biografia de Twain (de onde guardei o seu nome verdadeiro para sempre) com o comentário famoso de Hemingway: “Toda a moderna literatura americana vem deste livro. Nada antes dele, e nada tão bem depois”.

Para mim, o que veio depois eu devo certamente ao meu pai e, é claro, a Mark Twain.

'Pilatos', de Carlos Heitor Cony, simboliza o Brasil de Delfim Netto

Pilatos , romance de Carlos Heitor Cony publicado em 1974, pode ser lido como um retrato do Brasil de Delfim Netto, um dos artífices da dita...