22 outubro 2017

Um diário de José Agrippino de Paula


Estou lendo um diário escrito por José Agrippino de Paula em 1966, ano em que ele trabalhava na peça As Nações Unidas e no romance PanAmérica, seu livro mais importante, chamado por ele de “epopeia”. É muito interessante ver a origem do material, principalmente do romance, desde os esboços de ideias e de textos até as sugestões de títulos para os capítulos, descartadas na edição final (o livro publicado tem vinte capítulos não numerados).

Quando Agrippino começou a pensar nessa obra, ela também não tinha um título definido, como é comum a diversos autores. Na dissertação de mestrado em que analiso a ficção de José Agrippino (download aqui), mostro que, no contrato de edição firmado com a Editora Tridente, do Rio de Janeiro, o livro que resultaria em PanAmérica tinha um título provisório: “Divindades eróticas: uma epopeia”, o que revela a indecisão do autor no momento em que o livro tinha uma garantia de que seria publicado. O diário, anterior a esse momento, traz outras sugestões, que espero revelar quando publicar uma edição de meus trabalhos sobre Agrippino.

O caderno ainda mostra obras de referência para o autor naquele período. Uma das coisas que me deixam contente é saber que, durante o processo de escrita, Agrippino não somente lia como transcrevia trechos de Ulisses, de James Joyce, na tradução de Antonio Houaiss publicada naquele ano. No meu estudo, faço um paralelo entre a utilização da mitologia nessa obra seminal de Joyce e na epopeia de José Agrippino que, aliás, completa 50 anos em 2017.

É de se lamentar que a efeméride passe quase despercebida, ainda mais a uma obra que continua falando eloquentemente (ou agressivamente, como é mais característico do estilo de Agrippino nesse livro) sobre a realidade latino-americana.

Um trecho do diário:

“Fragmento em que eu estou no hospício ou no sanatório. Transformar em Penitenciária. E os escoteiros em policiais.

[Em destaque:] “XX // Ativar as situações potencialmente agressivas // XX.

“Narrar no fantástico as organizações sociais. Exército, hospitais, DOPS, TV, Cinema, jornais. Substituir todo símbolo vago por um concreto, presente e social no sentido latino-americano”.

25 abril 2017

Aviso

Caros amigos, desde o começo deste ano também tenho publicado textos no Medium. Se quiserem me acompanhar nesse outro canal, o endereço é o seguinte:




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