11 janeiro 2016

David Bowie morreu e hoje as estrelas parecem muito diferentes


Como milhares de fãs deste lado do planeta, fui acordado hoje com a notícia da morte de David Bowie. Ainda na semana passada eu comentava com amigos sobre como Bowie salvou o rock quando, depois de diversas tentativas fracassadas, explodiu com o aparecimento de Ziggy Stardust no início dos anos 1970. Além do seu próprio trabalho, nessa mesma época ele ajudou a levantar a carreira de Lou Reed e, pouco depois, a resgatar um obscurecido Iggy Pop. Esse momento foi tão fértil na história do rock que virou tema de livros e de um instigante filme dirigido por Todd Haynes em 1998. O título, Velvet Goldmine, vem de uma canção de Ziggy Stardust.

Bowie foi um daqueles artistas cuja missão, mais do que produzir arte, era apontar caminhos, mas isso não aconteceu de modo programático. Ao contrário, a trajetória heterogênea foi fruto de sua inquietação. E a coerência que obteve ao explorar territórios tão diversos é fruto de uma incrível originalidade artística. Se num texto sobre um astro do rock ou da música pop estamos invocando a arte é porque Bowie ajudou a elevar o rock'n'roll a essa esfera. Ele foi um artista-síntese, desses que absorvem referências para transformá-las e assim criar um universo próprio, do qual é difícil ou quase impossível escapar.

Por isso teve, tem e durante muito tempo ainda terá uma influência duradoura. Que outro astro do rock ou da música pop foi afinal capaz de influenciar, além da música, também os costumes e a moda? Em sua biografia sobre o artista, Marc Spitz observou com muita felicidade, a partir da letra de "Heroes", que Bowie foi o homem que nos disse que poderíamos ser herois apenas por um dia ou para todo o sempre!

Logo depois do anúncio da morte, as pessoas começaram a compartilhar um post sobre a idade da Terra e a feliz coincidência de, num espaço de bilhões de anos, termos sido contemporâneos de David Bowie. Também nas redes sociais ainda pipocam as homenagens de famosos e anônimos nos mostrando o quanto David Bowie é nosso contemporâneo. Talvez seja justamente esse o seu principal legado. Bowie era atual porque parecia estar muitos passos à nossa frente, num pioneirismo que não tinha medo de enfrentar mudanças. A mudança, aliás, era um dos pressupostos de sua existência (“Vire e encare o estranho”). E acho que ele seguirá fazendo isso. Talvez nos confundindo. Agora, mais do que nunca, como um homem das estrelas esperando no espaço.

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