30 dezembro 2011

O não ser


“Anonymous”, dirigido pelo alemão Roland Emmerich dos filmes catástrofe "Independence Day" e "2012", aborda um tema controverso que vem gerando debates há mais de dois séculos: a autoria das obras de William Shakespeare.

Por razões históricas, há correntes que contestam como um homem com uma educação básica do interior da Inglaterra, tendo vindo para Londres para ser um ator, pudesse ter se tornado o responsável por escrever os dramas e poesias com intrincadas questões morais e filosóficas atribuídos ao bardo inglês. Os contrários ao homem de Stratford-Upon-Avon, a cidade onde Shakespeare nasceu, apontam inúmeros erros e incongruências tanto na vida quanto na obra de William Shakespeare para negar-lhe a autoria.

É uma questão instigante. Uma vez, ao explicar o que era o cânone, uma professora nos disse que houve um tempo em que Shakespeare não fazia parte do cânone da literatura inglesa. Imagino se um dia os livros de literatura trarão sob o título de um “Hamlet” ou um “Macbeth” o nome de outro autor. E Shakespeare, como nesse tempo em que não havia entrado no cânone, será banido para sempre da história ou, o que talvez seja pior, figurará nela apenas como um impostor, como o ator que durante muito tempo e mesmo depois da morte interpretou o papel do autor.

O problema da autoria naquele que é considerado o maior autor da língua inglesa também ocorre com um dos fundadores da literatura ocidental, Homero. A diferença fica por conta do momento histórico. Enquanto da época de Homero poucos registros restaram além de suas obras, há farta documentação sobre a Inglaterra elizabetana em que Shakespeare viveu. Um dos pontos sustentados pelos que lhe são contrários é que não há “outros” registros do homem William Shakespeare como cartas, anotações ou livros que lhe teriam pertencido.

Há gente de respeito, historiadores, artistas e literatos que concordam com a teoria, mas mesmo entre eles não há um consenso sobre quem de fato teria escrito as obras. Diversos escritores e até não escritores são apontados. Há também quem defenda que Shakespeare, a exemplo do que se diz de Homero, foi na verdade um conjunto de autores.

No filme, a tese é que o autor verdadeiro era Edward De Vere, conde de Oxford. Nobre de educação elevada, ele sim teria a “capacidade” para escrever aquelas obras transcendentais. Já o verdadeiro Shakespeare, o ator de Stratford-Upon-Avon, é retratado como um doidivanas. Imagino a irritação dos orgulhosos moradores da cidade e dos estudiosos que não acreditam em nenhuma das teses do não ser.

Não tenho autoridade nem conhecimento profundo do assunto para endossar uma ou outra opinião. Apenas fico com algumas questões que, no fim das contas, é o que nos sobra em praticamente todos os assuntos. Por que um homem simples do interior não poderia ter escrito as peças e os poemas? Como interiorano, me sinto particularmente ofendido. Por que entre os autores a quem os escritos são atribuídos pode figurar gente que nunca escreveu nada de relevante além da obra shakespeariana? Mais, por que esses autores podem não ter escrito nada além da obra, justamente um dos pontos em que Shakespeare é condenado pelos inquisidores? Fundamentalmente, por que os “verdadeiros” autores teriam se ocultado e rejeitado a autoria das obras?

O filme vai de encontro a essa última questão, argumentando que o autor real teria se escondido devido ao seu envolvimento com a corte da época, sobretudo com a rainha Elizabeth, e principalmente porque, sendo um aristocrata como era não poderia, naquele tempo, escrever para teatro. A lição moral é que no fim importa mesmo a obra, e não quem a produziu, mas, se isso fosse verdade, não haveria por que fazer até um filme sobre o assunto, não é mesmo? Ou haveria?

(Esse texto é dedicado ao meu amigo, o doutor Maurício Fernandes de Oliveira.)

24 dezembro 2011

Anoiteceu

Uma vez, numa véspera de Natal, a família estava pronta para a ceia quando um amigo do meu pai apareceu lá em casa completamente bêbado. Buscava o perdão por algo estúpido que fizera. Sempre quando chega o Natal eu imagino a solidão daquele homem naquela noite. E de outros como ele.

Imagino como ele começou a pensar na vida que levava, uma vida bem sucedida aos olhos de qualquer um, como começou a notar as coisas que perdera e se pôs a beber enquanto relembrava o amigo com quem se desentendera durante uma de suas bebedeiras. Em algum momento, encorajado, deve ter percebido que aquele era o momento propício para o perdão, afinal, era a véspera do dia em que Ele nasceu. Claro que, chegando como chegou, embriagado como estava, acabou se atrapalhando e o pedido tão sincero nos pareceu a todos um reflexo da embriaguez. Algum tempo depois, os amigos se reaproximaram e a vida seguiu como deve seguir.

Essa é uma das memórias mais marcantes que tenho da noite de Natal, mas não creio que por isso me tornei um daqueles tipos que sempre acharam o Natal melancólico, triste. Ao contrário, creio que fixei essa lembrança justamente porque tenho essa predisposição. Apesar de todas as declarações sinceras de “Feliz Natal”, os natais sempre me pareceram uma falta, uma desesperança, mesmo com todo o carinho da família e dos amigos. Houve natais diferentes, uma alegria que eu nunca consegui sentir de verdade. Havia presentes, havia a comida e era sempre tanta comida para tão pouca gente, mas o fato para mim é que os natais, de algum modo, são a solidão daquele amigo do meu pai. Os natais para mim sempre foram um pedido de perdão e um desejo grande de poder ser perdoado.

Passar o Natal tão longe não vai ajudar a dissipar essa sensação. O frio que sinto pela primeira vez é real, o inverno que acabou de chegar só aumenta a vontade de estar por perto, aquecido, mas sei que se estivesse com os meus estaria sentindo exatamente a mesma coisa e talvez tentando disfarçar, como se não devesse estar ali, como se não pertencesse àquilo tudo.

Apesar de ir a missas na minha infância e na adolescência, eu nunca fui à missa na noite de Natal, pelo menos não me lembro de ter ido, mas gostava de ver as transmissões da “Missa do Galo”. Gosto até hoje. É um dos momentos reconfortantes, quando eu me sento e vejo aquele ritual tão antigo quanto a própria história do Natal. Algo que atravessou tantos séculos, que animou tantas vidas e que se mantém.

Sinto falta desses momentos, sinto falta de tudo e de todos. Sinto falta da segurança de poder voltar para casa. De algum modo sempre quero voltar para casa, e agora que a volta não está tão distante quanto parecia estar há alguns meses, sinto como nunca o tamanho e o peso da distância. Como uma tristeza viva, latente, aumentada pela força da data em que temos que estar, ou pelo menos parecer estar, felizes.

Os pequenos gestos e as pequenas coisas, como o terço que há pouco eu encontrei num bolso interno que eu nunca tinha suspeitado existir na minha mala, um terço que, como tantas outras coisas, foi colocado ali pela minha mãe, essas coisas me dão a coragem necessária para atravessar esta noite.

E é durante essa travessia que eu quero dizer aos meus amigos, a todos eles, o quanto sinto suas faltas e o quanto eu lhes desejo um feliz Natal. Eu poderia fazer isso de outro modo, há tantas maneiras mais rápidas e fáceis, mas sei que eles entenderão que este é o meu jeito mais puro de lhes desejar uma noite feliz. Se, num relance, virem a Missa do Galo, lembrem-se que se eu estivesse por aí, gostaria de estar assistindo.

22 dezembro 2011

Ainda não

Conheci o Carlos Saraiva por intermédio da minha amiga Tutti Madazzio. É um cara bacana que editou um vídeo sobre o José Serra na época em que o tucano concorria à presidência pela segunda vez. A última coisa que soube era que ele estava montando um sebo virtual.

Uma vez, contei a eles o meu périplo para conseguir uns documentos na FAU-USP para a minha biografia de José Agrippino de Paula. Ou teria sido o périplo para conseguir documentos no CPOR-SP? (Notem como o inferno da burocracia e do obscurantismo começa já nas siglas.) Talvez os dois. O fato é que o Carlos se divertiu com o meu relato aflito. No fim, ele mudou de expressão e me disse muito seriamente que tudo aquilo era excelente material para ser desenvolvido como ficção.

Me perdoem pela sugestão óbvia, mas imaginem o que um Kafka faria com a realidade brasileira. E por que apenas Kafka? Por que não outros, muitos outros que viveram antes e depois? Por que não eu mesmo, como sugeriu o Carlos? O fato é que olhando o Brasil de fora, nem que seja durante pouco tempo, é impressionante notar como não temos uma tradição consistente de literatura fantástica. Porque o que acontece por aí em termos de serviço ou liberdade de expressão é coisa extraordinária e material para centenas de volumes.

Ontem mesmo li que o Palmeiras e até o goleiro Marcos estão falando em solicitar a interdição jurídica de uma biografia que está para sair sobre o jogador. Se o fizerem, serão respaldados por um artigo do Código Civil que ainda não chegou a uma conclusão sobre o limite entre o direito à privacidade e o direito à informação. Bom, se os nossos políticos, que juraram a Constituição, ainda não chegaram à conclusões sobre direitos básicos, o que esperar da biografia de um boleiro...

Meu problema agora é simples, ao contrário daquela vez. Busco a simples remarcação de uma passagem aérea. Já tive problemas semelhantes e até piores com empresas dóceis como a Vivo, o Bradesco, a NET e por aí vai. Agora é a TAM. Estou há exatamente três horas e meia no telefone ouvindo uma gravação enquanto espero para ser atendido. Não se preocupem, vou poupá-los de detalhes. O fato é que no Brasil se permite esse tipo de abuso. E não usei o novamente o advérbio ainda de propósito. Porque acho que essa é uma das nossas características fundantes, o abuso de poder. Direta ou indiretamente o poder sempre cometeu seus excessos. A tolerância do poder com instituições como as bancárias, por exemplo, se explica na medida em que essas instituições significam ou podem significar mais poder para quem governa. E aí temos o círculo vicioso e o material vasto.

E onde estão nossos escritores para transformar esse estado de coisas em literatura? Sim, porque não se deve esperar da política. A transformação pode vir pela via da arte. O Carlos Saraiva, ao me falar seriamente, sabia muito bem disso.

20 dezembro 2011

Amor de cão

Quando éramos crianças, minha irmã e eu escolhemos um filhote numa ninhada da casa do Davi, caseiro da chácara de um grande amigo do meu pai. Não me lembro ao certo, mas creio que havia quatro cachorrinhos e pegamos uma fêmea logo batizada de Chispita por causa de uma novela mexicana da época.

A Pita, como a chamávamos, cresceu junto com a gente, mas ainda novinha pegou uma parvovirose e quase morreu. Depois do tratamento, a veterinária sugeriu que ela precisava de terra e espaço. Como tinha tudo isso na casa dos meus avós, em Itu, ela foi deixada para ser criada pelos Ditos (a vó Dita e o vô Dito).

Em pouco tempo Chispita se tornou a cachorra do meu avô. Onde ele estava ela também estava. Eram inseparáveis. Quando chegávamos aos sábados pela manhã éramos recebidos com uma série de latidos que parecia interminável tamanha era a alegria dela. Na gaveta do armário da varanda, sempre tinha uma paçoquinha cuidadosamente enrolada num guardanapo de papel, desses de boteco. Chispita era louca por paçoca. Talvez por ter crescido com duas crianças, gostava de doces em geral e de sorvetes em especial. Era irmos a uma sorveteria lá de Itu para ela dar espetáculo por sua paixão por sorvete. Também gostava muito de andar de carro.

Nunca me esqueço do vô Dito sentado numa ponta do sofá e a Chispita dormindo na outra. Então ele tirava um palito de fósforo do bolso da camisa e cuidadosamente começava a espetá-lo entre os dedos de uma das patas. Ainda dormindo, a Pita começava a coicear e o meu avô quase não conseguia segurar a gargalhada iminente. Quando ele estava de mau humor, o que não era muito freqüente, ele via a cachorra na mesma posição e reclamava:

- Essa cachorra não faz nada o dia inteiro. Só dorme.

- E o que você quer que ela faça?, protestava a minha avó.

E assim a vida seguia naquele pacato bairro de Itu. Um dia, porém, meu avô morreu e a Chispita tentou seguir a ambulância que levava o seu corpo. Não me lembro se foi ainda nesse dia, mas logo depois da morte a Pita desapareceu. Ela já tinha fugido algumas vezes antes, mas daquela vez ficou fora por mais de uma semana. Pensamos que a tínhamos perdido para sempre, mas um vizinho a encontrou muito longe de casa e a trouxe de volta. Estava prenhe.

Meu pai tinha começado a construir o jazigo sobre a vala onde meu avô foi enterrado e Chispita costumava acompanhá-lo até o cemitério. Ao ver a cachorra, um dos coveiros a reconheceu e disse que ela andara por ali havia alguns dias. Logo entendemos que durante o seu retiro ela estava onde sempre gostou de estar, ao lado do grande amigo.

Anos mais tarde, quando a Pita também morreu, minha mãe a enterrou na mesma chácara onde ela tinha nascido catorze anos antes. Eu não consigo imaginar gesto mais amoroso. Uma bela retribuição a essa cachorrinha que tanto nos deu.

Por essas e outras, nunca entendi direito as pessoas que não gostam de cachorro. Talvez porque eu goste tanto, porque eu sinta grande alegria ao lado de qualquer um deles eu não consiga entender bem como alguém pode não gostar. Algumas pessoas têm traumas, outras simplesmente não gostam das “marcas” que os bichos deixam pela casa, não sei. O fato é que eu concordo com o Mário Bortolotto quando ele diz que “cachorros são sagrados”.

Então, vejo notícias como a do Lobo, o cão que foi arrastado numa caminhonete e, depois de dias de agonia, não resistiu, ou essa do cãozinho Titã, enterrado vivo, e não acredito na imbecilidade e na ferocidade humana. Infelizmente esse tipo de mau trato é comum. E como pode ser? Eu não sei, mas ao mesmo tempo há a comoção e, no caso do Titã, a intuição maravilhosa do homem que suspeitou haver algo estranho naquele monte de terra recém revolvida.

Agora o Titã está se recuperando e eu rezo para que tenha uma longa e boa vida, como a Pita teve. E o cãozinho, se fosse dado de volta a esse dono a quem nos parece impossível perdoar, ele sim seria capaz, como o ser que é, do perdão.

04 dezembro 2011

O exemplo do doutor Sócrates

Gostava da imagem de Sócrates. Nunca vi, em toda a minha vida, um ex-jogador tão peculiar. Que era um craque ninguém duvida, mas eu gostava de vê-lo falando, sempre com opiniões inteligentes e audaciosas, não raro chocantes justamente porque iam de encontro ao senso comum.

Sócrates era um engajado. Me lembro dele nos últimos Cartões Verdes que assisti dizendo como escreveria um romance sobre a próxima Copa do Mundo no Brasil em que a seleção, como nas Copas em que ele mesmo participou, outra vez perderia o título no Maracanã. Era um provocador que sonhou presidir a CBF, algo tão utópico quanto ele mesmo e seus ideais, mas que, como lembrou Paulo Vinícius Coelho, nunca se omitiu.

Num país em que poucas coisas são mais importantes do que o futebol, tivemos a sorte de ter, entre tantos craques, um Sócrates que sempre que pôde fez questão de mostrar às massas que tudo depende da política, que nem tudo é futebol. Talvez pelo velho estigma brasileiro de achar que cada coisa deve ocupar o seu lugar, que um jogador de futebol não deve se envolver ou mesmo falar sobre política (um discurso por si só controlador e contrário à liberdade individual), Sócrates, com seu jeito relaxado e direto, foi, sobretudo nos últimos anos, uma espécie de anti-herói. E ainda aqui mais uma vez temos o Brasileiro.

Sócrates era uma figura estranha, um corpo estranho que nos gramados improvisou o calcanhar para compensar a lentidão e que, fora deles, improvisou um discurso favorável à liberdade do indivíduo e à afirmação do povo ao qual pertencia. E essa, a meu ver, foi a sua grande contribuição.

03 dezembro 2011

Outono

No final do outono, as tardes do bairro de Wimbledon, no sudoeste de Londres, guardam uma inconfundível paisagem do que se imagina como sendo a Inglaterra. As folhas caídas que não são recolhidas até se pregarem e se misturarem para sempre no asfalto, as copas das árvores completamente sem folhas nas quais brincam esquilos que debandam com a proximidade de assustadores pássaros pretos, os velhos que caminham com coletes e boinas e, às vezes como um personagem de Dickens, com volumosas costeletas e irretocáveis smokings, tudo isso me faz crer que estou vivendo de fato em terras inglesas.

As coisas neste país são tão típicas e características que é impossível não reconhecê-lo em cada casa de tijolinho, no passar do ônibus de dois andares ou do táxi preto que, nos últimos anos, vem ganhando novas cores que vão desde as cores da bandeira da união até um inesperado magenta. Numa pequenas epifania, Caio Fernando Abreu se referiu à Inglaterra como “a velha senhora que virou punk”.  De encontro a isso, um professor outro dia me dizia que é do espírito inglês ser ao mesmo tempo aristocrata e anarquista. As pequenas mudanças não têm um componente de declarada transformação, mas é notável como ao longo da história eles se transformaram enquanto conquistavam e construíam coisas que os tornaram tão peculiares e, tão ao seu gosto, excêntricos. Às vezes mais, às vezes menos do que imaginamos.

Nesta semana no tram, como os britânicos chamam o bonde, uma mulher começou a falar mal de negros e polacos que, segundo ela, deveriam voltar para os seus países. Houve reação e bate-boca, mas, talvez protegida pelo filho que trazia no colo, talvez porque agressões e brigas são coisa rara por aqui, nada de grave ocorreu. Creio que a mulher foi presa e será encaminhada a uma instituição psiquiátrica. A manifestação foi muito comentada sobretudo nos jornais impressos e houve é claro quem observasse que o racismo exacerbado foi um pensamento crescente que se tornou corpóreo nas palavras da jovem mãe.

Vivendo há exatos seis meses por aqui, não tenho como dizer se isso é correto e torço para que não seja. Claro que a crise econômica que ameaça invadir a Inglaterra e as massas de trabalhadores que migram para cá são temas difíceis para os ingleses, um povo que não gosta de falar abertamente de política e religião. Eles que, a ignorância dessa mulher não a deixa ver, foram formados por tantos povos invasores ao longo da história, agora se vêem obrigados a tomar medidas mais duras contra o que vêm do continente, muitas vezes graças a facilidades permitidas pela discretamente contestada União Européia. O caso do tram, como tudo o que envolve xenofobia e preconceito, é infundado e beira o bestial, mas a atitude da mãe, reflexo dos tempos, não deixa de encontrar eco em diversos setores da sociedade, sobretudo naqueles representados pelo partido conservador.

Seis meses e essa paisagem de Wimbledon que tanto mudou desde a minha chegada começa a se tornar mais monótona, mesmo permanecendo incrivelmente bela. O corpo ainda não se acostumou ao frio que tem feito e que só vai aumentar até o auge do inverno no começo do ano. O tempo, agora, é de trabalho e pouco lazer. Lembro dos amigos me dizendo que eu não ia voltar, mas invariavelmente sinto que o meu tempo por aqui está chegando ao fim. Quando isso acontecer, a Inglaterra terá sido uma tarde de outono, bonita e melancólica.

30 novembro 2011

Diploma, obrigado

Vejo que o Senado Federal aprovou em primeiro turno uma Proposta de Emenda Constitucional favorável à obrigatoriedade do diploma de jornalismo para o exercício da profissão. Como tenho deparado com o tema ao longo dos últimos anos vou expor o meu ponto de vista. Sou jornalista formado, mas durante muito tempo trabalhei como jornalista com o meu diploma de comunicação em Rádio e TV.

Sou, e quero deixar isso bem claro, totalmente contrário à obrigatoriedade do diploma de jornalismo para o exercício da profissão. Acho a faculdade de jornalismo ou a formação superior num curso de ciências sociais ou humanas fundamentais para o desenvolvimento do jornalista e do jornalismo. Foi por esse motivo que voltei para os bancos da universidade em busca do meu diploma no curso.

Não acredito no Senado Federal, acho que já há algum tempo a casa chegou a um ponto de desmoralização que torna possível a discussão de sua necessidade para a nossa República, mas isso é outra história. Agora, na Constituição Federal eu acredito e me sinto até constrangido de imaginar que um dia a Carta Magna do país possa trazer, entre direitos e garantias fundamentais, a obrigatoriedade do diploma de jornalismo para o exercício da profissão.

O jornalismo é uma atividade liberal que independe e deve independer de uma garantia do Estado. O mercado do jornalismo no Brasil é injusto e desigual para o trabalhador jornalista não porque há profissionais não diplomados exercendo a profissão, mas porque os jornalistas que a exercem – formados ou não – não foram capazes até hoje de criar uma associação sólida e confiável capaz de tornar o mercado mais digno e fazer frente aos empresários da comunicação, aqueles que sempre deram as cartas.

Imaginar que a obrigatoriedade do diploma, como foi durante quase quarenta anos, vai melhorar o padrão do nosso jornalismo é no mínimo ingênuo. Como é ingênuo imaginar que a não obrigatoriedade vai acabar com a necessidade pessoal do curso superior e da especialização. Como se de uma hora para outra o mercado passasse a aceitar aventureiros que não sabem escrever e não têm diploma no lugar daqueles apaixonados que investiram e se especializaram na área.

Além disso, acredito que a não obrigatoriedade pode contribuir para o desaparecimento daquelas faculdades caça-níqueis que existem justamente porque um dia um governo, por acaso o militar, tornou a necessidade do diploma obrigatória. 

29 novembro 2011

Mark Twain


Abro a página do Google e vejo que hoje é o 176º aniversário de Mark Twain. Como este blog tem um fundo memorialístico e, por que não dizer, bibliográfico (sem jamais querer ser pretensioso), vou falar um pouco sobre Samuel Langhorne Clemens.

Mark Twain foi o pseudônimo definitivo adotado por esse americano nascido no povoado de Florida, no Missouri (sem relação com o estado). O nome era a apropriação de um termo náutico utilizado por pilotos de barco a vapor do rio Mississipi, uma das muitas profissões que Twain exerceu ao longo de sua vida. Conhecido pelo humor e inteligência, deixou ao menos dois personagens inesquecíveis, Tom Sawyer e Huckleberry Finn. Ambos aparecem nos livros “As Aventuras de Tom Sawyer”, de 1876, e depois em “Aventuras de Huckleberry Finn”, de 1884. Este último é considerado um marco da literatura estadunidense. Graças a ele, Twain é tido por muitos, como William Faulkner por exemplo, o “pai da literatura americana”.

Lembro até hoje quando meu pai me deu de presente “As Aventuras de Huck”, uma edição da Moderna com uma convidativa capa dura que trazia o escravo Jim e o garoto Huck correndo. Foi o primeiro livro que eu li. Eu tinha por volta de dez anos e não o li sem dificuldade. Eu fiquei maravilhado com aquelas aventuras vividas por um garoto como eu e um escravo que, entre outras coisas, navegavam o Mississipi numa jangada que eles mesmos construíram.

Pouco tempo depois, num sábado, enquanto passávamos o fim de semana na casa dos meus avós, meu pai, sempre ele, me avisou que a tevê iria passar o filme baseado no livro. Nunca mais revi esse filme, mas nunca vou me esquecer dele nem que o vi sentado numa das poltronas daquela saudosa casa de Itu. Alguns anos mais tarde, eu comprei uma adaptação em quadrinhos de “Tom Sawyer” e li o livro numa edição emprestada da biblioteca do “Estadão”.

Ambos os livros estimularam e, é claro, estimulam a imaginação de centenas de milhares de jovens ao redor do mundo. É triste pensar que “Huckleberry Finn”, especialmente, tem sido alvo de críticas que o acusam de racista e que algumas edições americanas da obra omitem os capítulos que contêm palavra “nigger” quando se refere a Jim. E antes de qualquer confrontação ao que estou dizendo apenas recomendo a leitura. Monteiro Lobato, outro que sofre com acusações de racismo, foi um dos que o traduziram.

Costumamos acumular e colecionar muitas coisas ao longo da vida, mas se eu fosse obrigado a me desfazer de tudo, mantendo apenas um dos meus objetos, eu escolheria aquele livro. Outro dia, folheando-o, encontrei entre suas páginas uma folha em que eu datilografei com a velha Lettera 22 do meu pai uma pequena biografia de Twain (de onde guardei o seu nome verdadeiro para sempre) com o comentário famoso de Hemingway: “Toda a moderna literatura americana vem deste livro. Nada antes dele, e nada tão bem depois”.

Para mim, o que veio depois eu devo certamente ao meu pai e, é claro, a Mark Twain.

19 outubro 2011

A Espada Selvagem de Conan e o mistério de Toledo



Nunca gostei muito de viajar. Admiro pessoas que viveram toda a sua vida num raio de cem, duzentos quilômetros do lugar onde nasceram. Quando saio, gosto de me demorar e tentar, sempre que possível, viver no novo destino. Nem que seja por algumas horas. Admito e reconheço a contradição, afinal até ontem eu estava na Espanha, mas a vida é cheia de contradições e o homem, um ser contraditório. Estou apenas dizendo o óbvio.

Na semana passada, me hospedei por alguns dias na casa de uma boa amiga em Barcelona. Ela vive com a família num lugar extremamente aprazível, diante de um dos principais pontos turísticos da cidade. Da sacada, de onde quase se pode tocar o monumento, eu via levas de turistas com ameaçadoras máquinas fotográficas. Durante uma das contemplações não resisti e disse a ela, precisamente uma turismóloga, que não entendo o fenômeno do turismo. A mim me parece que para o turista o mais importante é o registro, não o proveito. A lembrança que ele pode ter, seja por meio de uma imagem ou de um pequeno objeto que possa adornar sua estante, me parece mais importante do que o que ele pode viver e conhecer. Sei que estou sendo simplista. Também tenho minha máquina, com a qual aliás fiz todas as fotos destas páginas, e costumo comprar minhas lembranças. Por outro lado fico feliz quando entro num museu ou numa igreja que não permite fotografias. Notadamente esses lugares são os mais vazios de turistas.

Escrevo estas coisas pensando especialmente na viagem que fiz segunda-feira de Madrid a Toledo, a antiga capital. Em Barcelona, descobri que Jean-Claude Carrière finalmente tinha escrito o livro que eu sempre quis ler: as memórias de seu relacionamento com a Espanha
e com Luis Buñuel. Com a ajuda de Carrière, Buñuel já tinha feito as suas em “Meu último suspiro”. Agora chegou a vez do roteirista escrever as dele com o auxílio, é claro, de Buñuel. O cineasta espanhol tinha uma longa e verdadeira relação com Toledo, e Carrière ocupa um capítulo para falar das visitas que os dois faziam à cidade. Durante anos eles tinham por hábito visitar pontos costumeiros seguindo uma rotina que estabeleceram e que gostavam de seguir.

A Toledo que eu procurava não era aquela, mas, mesmo com toda a conservação física e espiritual, foi impossível não notar como a cidade descrita por Carrière não existe mais. Como toda cidade europeia com algum apelo histórico ou cultural, Toledo adquiriu ares de mercado a céu aberto com suas visitações super taxadas, seus ônibus turísticos de dois andares e suas lojinhas de lembranças, todas padronizadas e sem alma: I Love Toledo ou Yo Amo Toledo, tanto faz. Entre os muitos ferreiros e ourives da cidade existe o hábito de se fazer espadas medievais e pequenas miniaturas de cavaleiros templários, reis e fidalgos d’Espanha, de Dom Quixote e Sancho Pança, por exemplo. Até aí se compreende, e não raro são peças muito bonitas. Mas aqueles samurais e as espadas de ninja dizem muito sobre o visitante da cidade e sobre o mundo do turismo. Além disso, há também “réplicas” da excalibur e da espada selvagem de Conan, o Bárbaro...

Claro que nem tudo é Hollywood e Toledo é um dos lugares mais encantadores que se pode conhecer. A muralha, as construções árabes e cristãs, as mesquitas, as sinagogas e as igrejas, tudo se insinuando sem se revelar totalmente em ruas labirínticas que remontam a tempos muito anteriores a Cristo. Caminhei muito e me perdi com prazer e surpresa. Era preciso muito mais que um dia e a cidade milenar sabe disso. Felizmente, o mistério de Toledo vai além daqueles objetos sem memória. Ele perdura há centenas de anos vagando por aquelas ruas estreitas de pedra.

31 agosto 2011

Uma sessão em Paris

Uma vez em fiz a eleição dos melhores lugares e épocas para se viver. Venceu o Rio do fim dos anos 1950, deixando a Paris do entre guerras em segundo lugar. Me lembro que Nova York figurava em qualquer década do século passado mas sinceramente agora já não sei por que motivo. E o que mais me surpreendeu é que a São Paulo do começo dos anos 2000 até aqui foi classificada entre as primeiras. Compartilhei essas eleições com bons amigos e verifiquei que as cinco primeiras pouco variavam. Foi bom porque também pude verificar que sei quem são meus amigos.

Quando eu saí do Brasil em junho queria muito ver o novo filme do Woody Allen, “À Meia-Noite em Paris”. Melissa me contou que se situava justamente naquele período, quando a “lost generation” fincou raízes na cidade. Ela ainda falou que havia uma cena em que o protagonista sugeria ao jovem Luís Buñuel o argumento para aquele que viria a ser um de seus principais filmes, “O Anjo Exterminador”.

Eu me deliciava imaginando como Allen utilizaria o pano de fundo numa trama. Em Londres, porém, o filme não estava mais em cartaz. Com o acaso ao meu lado, fui para Paris há algumas semanas e, claro, encontrei uma sala exibindo o novo Allen.

Não era de surpreender. Paris é uma das cidades com maior número de salas de cinema no mundo. E a maioria delas fica na rua, em endereços e espaços discretos que exibem, com áudio original, filmes das mais diversas cinematografias. Caminhando pela cidade, eu vi cartazes anunciando “All About Eve”, de Joseph Mankiewicz (“A Malvada” no Brasil) e “Le Bal”, de Ettore Scola (“O Baile”), para ficar em apenas dois exemplos.

Entrei naquele cinema da rue Mouffetard um pouco cedo, e tive de esperar a proximidade da sessão para comprar o ingresso. Belo filme, o diretor escolheu um dos períodos mais férteis do século passado para intercalar com os dias de hoje, quando um jovem escritor estadunidense decide viver em Paris para escrever o seu romance. Quem conhece essa história sabe como é quase impossível andar por Paris sem desejar um grande romance. O protagonista, Gil, é o mesmo e velho alter ego de Allen, e o ator, o comediante Owen Wilson, soube muito bem interpretá-lo. Claro que com Allen no papel a história seria outra.

Não vou falar da trama que, a rigor, não importa. O que vale é descobrir que Paris, como qualquer lugar, é bom em qualquer época. Óbvio, mas o óbvio precisa ser dito. Se dito em forma de arte, tanto melhor. Por isso a São Paulo em que eu vivia figurava na minha lista.

Comprei o ingresso e esperava na antessala quando, num inglês quase tão precário quanto o meu, o projecionista disse para eu ir para a sala pois ele ia iniciar a projeção. Era a hora. Além de mim, o cinema tinha apenas as figuras de Hemingway, Fitzgerald, Gertrude Stein, Picasso, Man Ray, Buñuel, Dalí...

14 agosto 2011

Lando


Conheci muito pouco o meu avô paterno, o suficiente para me lembrar bem dele. Morreu quando eu tinha quatro anos e ainda posso vê-lo sentado no chão de um corredor para brincar com os netos.

Orlando de Arruda foi o primeiro filho homem de um total de sete irmãos. Tem uma irmã mais velha que ajudou a mãe a criar os mais novos depois que o pai morreu. Os demais iam trabalhar. Assim ele se tornou metalúrgico, trabalhando nas oficinas da Estrada de Ferro Sorocabana. A função era ajustador de motores. Conhecia o trabalho e suas ferramentas ao ponto de tornar-se chefe de seção. Como muitos colegas, aproveitava os restos da fundição para tornear instrumentos e utensílios domésticos. Alguns desses objetos estão até hoje na casa dos meus pais em Sorocaba, como um descaroçador de azeitonas e um cinzeiro de pouco mais de meio metro, exatamente da altura do braço da poltrona de couro onde se sentava para fumar.

Vestia camisas e caças de linho costuradas pela mulher. No cinto, um estojo para os óculos de aros grossos. Cabelo aparado à máquina e um bigodinho dos anos 40. Durante as refeições sentava-se numa das pontas da mesa numa cadeira vermelha que não podia ser trocada. Depois do almoço, um cigarro e a sesta. Na cama, gostava de cantar para os netos.

Montar em burro brabo é a minha paixão
Não encontro macho que jogue eu no chão
Pra jogar um laço eu também sou do bom
Em qualquer rodeio eu sou campeão
Ai! Como é bom viver 

Também me lembro dos passeios pelo bairro no Além-linha. Havia uma casa com uma amoreira onde ele gostava de apanhar os frutos para mim e minha irmã. Também me deu um Porsche de brinquedo e um burrinho que, movido a corda, coiceava brabo como na canção do Tonico e Tinoco. Ainda ganhei uma pá de pedreiro bem pequena e um martelo bola cujo cabo um dia eu quebrei mas substitui logo em seguida.

Gosto dessas ferramentas e do seu significado. Gosto das ferramentas e dos pequenos utensílios que ele fazia ou trocava com amigos na Sorocabana, como o número 741 que até hoje indica a casa construída com o auxílio do irmão Rubens na rua Mascarenhas Camelo.

Ele já estava aposentado quando meu pai foi para a faculdade. Para pagar os estudos do filho comprou uma banca de jornais onde trabalhou por mais algum tempo.

Um dia, eu não entendi porque tive de dormir na casa de um vizinho. Meus pais me deixaram lá sem explicação, pelo menos eu não me lembro. Dias depois compreendi que meu avô tinha morrido. Ele sofreu durante algum tempo com um câncer no intestino até que finalmente se foi com apenas 62 anos.

Deixou, além da mulher, dois filhos e três netos, que depois viriam a ser quatro no total. Por causa da sua história e das histórias que ele repassou para o meu pai, é impossível eu pensar em trens e ferrovias sem me lembrar. Hoje eu caminhei um pouco à margem da linha aqui em Londres. No passeio público, entre o fundo das casas e as linhas de trem, floresciam pés de amora.

11 agosto 2011

Obscuro objeto do desejo

Costumo brincar que sou um homem do século XIX. Sempre gostei de livros e de jornais em seus formatos tradicionais. Vivo comprando livros usados ou novos, leio muitos, outros não, vendo, troco, doo, guardo cadernos inteiros ou recortes de jornais durante anos e depois jogo fora, me perco em meio a papeizinhos com anotações diversas e por aí vai. Por isso, quando cheguei aqui, fui correndo procurar uma livraria.

Antes, no metrô, eu tinha visto os meus primeiros Ipads e Kindles, uma visão empolgante que até hoje me deixa maravilhado. No Tube, como os londrinos chamam o metrô, eles usam celulares e smartphones para acessar a internet, falar e mandar mensagens o tempo todo. Claro está que eles também lêem muito. Normalmente bestsellers e jornais como o centenário e gratuito Evening Standard, muito concorrido nas principais estações no fim do expediente. Eles lêem e deixam sobre os bancos ao sair, como um presente para o próximo passageiro. Eu, por exemplo, já lamento quando entro no vagão e não encontro um jornal.

No meu segundo dia, entrei numa livraria na Tottenhan Court Road, onde fui descobrindo as edições originais ou traduzidas dos autores que conheço. Duas coisas logo me chamaram a atenção: a meticulosa classificação dos romances (“Ficção de A a Z”, “Clássicos”, “Bestsellers”, “Crime e Mistério” e “Ficção Científica”) e as edições das obras propriamente. Ao contrário do Brasil, onde comprar um título de um Philip Roth, por exemplo, pode ser tão caro quanto um jantar com a namorada, por aqui a maioria das edições são em brochura (paperback), e o papel tem a qualidade do papel-jornal. Os livros, que custam quase sempre £ 7,99 (algo em torno de 25 reais) são feitos para serem lidos em qualquer lugar, e não para serem cultuados e guardados como objetos de desejo. Se você quiser um acabamento melhor, vai ter de procurar uma edição de capa dura (hardback ou hardcover). Existe, mas não é tão comum na ficção geral e nos clássicos. São mais freqüentes nos lançamentos de grandes autores e em edições comemorativas. Já os principais bestsellers e muitos dos livros de crime normalmente são encontrados nas duas versões, o que dá a dimensão de como são obras colecionáveis.

É muito bom ver que os livros não têm tanto glamour. Assim, o Philip Roth, o Vargas Llosa, o Dickens ou qualquer outro autor sério é simplesmente tratado como mais um autor sério e, talvez por isso mesmo, acessível: sucucedem-se as reimpressões. Nesse contexto, é interessante notar a sedução do livro digital. Diferente do Brasil, onde o mercado do livro barato (sinônimo de livro de bolso) está crescendo somente agora, aqui eles já têm um mercado mais do que consolidado de edições baratas (não só de bolso). Isso tudo, fenômeno do desenvolvimento, justifica a ascensão do livro e dos leitores digitais. Já que as edições em paperback são muito próximas do descartável, por que ocupar tanto espaço nas estantes quando se pode ter versões digitais e ainda mais baratas? Eu, particularmente, não acredito no fim do livro impresso nem a longo prazo, como também não creio no fim do jornal, mas fica cada vez mais evidente que tanto um como outro terão um escoamento bem diferente daqui a algumas décadas.

Mas, como o animal do século XIX que sou, no dia seguinte encontrei outra livraria na Oxford Street, onde procurei cuidadosamente um livro que combinasse uma série de exigências: uma história curta, já que meu inglês exigiria muito tempo de leitura, uma edição barata que pudesse ser manuseada facilmente em qualquer lugar e um clássico da literatura de língua inglesa. Depois de alguma hesitação, pequei um “Daisy Miller”, do Henry James, por duas libras. No caixa, expliquei para o excêntrico vendedor que aquele era o meu primeiro livro em inglês. A reação foi espontânea. Ele abriu um grande sorriso, pegou o livro e o beijou, antes de me desejar boa sorte. E o gesto me revelou uma longa e duradoura relação.

07 julho 2011

As glórias da Escócia



Quando eu cheguei em Edimburgo, sabia que podia encontrar alguma referência a Walter Scott, tido como o "pai" do romance histórico. Um livro muito popular, "Ivanhoé", foi escrito por ele no começo do século XIX. Também se deve a Scott e a esse livro a popularização do nome e da figura de Robin Hood.

Caminhando pelo centro da cidade, eu vi uma imensa construção, que de longe me pareceu um obelisco e, mais perto, um mausoléu, mas não pude ver a quem era dedicada. No centro velho da capital da Escócia, logo deparei com a estátua de Adam Smith. A poucos metros dali, foi a vez de David Hume. Imediatamente me lembrei das aulas de filosofia e do meu amigo Renato Maia, leitor de Hume. A estátua de Scott deveria estar próxima. Os escoceses são um povo desenvolvido e sofisticado, e logo percebi que muito disso se deve a uma depurada noção da História. Não se trata de fazer homenagens com estátuas em praças públicas. O caso é o de se orgulhar de seus homens. As estátuas vêm depois, em consequência.

Claro que muito do progresso do Reino Unido nós sabemos a que se deve. O Castelo de Edimburgo tem várias seções dedicadas às guerras, desde tempos remotos em que os escoceses tinham de se defender dos vizinhos conquistadores do sul até o momento em que se juntaram a eles formando as poderosas armas britânicas.

O pequeno contato que tive com escoseses me permitiu ver um povo educado e amigável, não tão reservado quanto o inglês. Mas esses, por enquanto só os conheço de observá-los no Tube londrino. Depois do lago Ness, fomos para Inverness, considerada a capital das "highlands of Scotland". Foi o lugar mais perto que eu cheguei do polo até agora. Lamentei que tivéssemos apenas uma noite na cidade. Por isso eu não quis ir pra cama tão cedo. Foi o melhor que eu fiz. Onze horas, meia-noite e as trevas não chegavam. Numa passarela sobre o rio Inverness eu vi o horizonte. Lindo. Ao sul a noite total e ao norte um céu azul claro e escuro riscado como o dorso do tigre. Ainda conheci uns highlanders saindo de um pub com suas vestimentas características. Conversamos sobre alguns costumes escoceses, conversamos sobre aquela noite que me pareceu mágica. Eles não se conformaram quando eu disse que seria a única.

Na manhã seguinte, de volta a Edimburgo, fui até aquele obelisco e lá estava. Nunca vi tamanha glória dedicada a um escritor. O "Scott Monument" parece querer tocar o céu que ali na Escócia parece tão próximo.


02 julho 2011

O mito de Rogério Ceni


Nesta semana tive uma noção do mito de Rogério Ceni. Não que eu não tivesse. Rogério, com suas falhas e tudo o mais, é há muito tempo um dos grandes. Se fosse escocês, teria uma estátua numa rua de Edimburgo, mas isso é uma outra história. 

As coisas não foram fáceis para os são-paulinos. Primeiro veio a goleada de domingo. Depois, a perda da liderança do campeonato no Morumbi. Ambos os jogos tiveram falhas de Rogério Ceni. Como são-paulino e admirador de Ceni, eu apenas pergunto: e daí? E não penso no lugar que ele ocupa na história do São Paulo, mas em tudo o que ele tem feito em temporadas recentes. Minha memória não acaba na primeira falha nem na segunda. Para os adversários, claro, os frangos são um prato cheio. Normal, todos sabem quem é Rogério Ceni. Talvez eles saibam ainda melhor do que nós. Vê-lo falhando deve ser irresistível. Rogério deve estar abalado, mas deveria estar feliz também. Porque algumas brincadeiras, ao mesmo tempo em que transpiram dor-de-cotovelo e rancor, dão a dimensão de sua grandeza.

O goleiro-artilheiro tem quase mil jogos, cento e um gol marcados e pelo menos cinco títulos importantes. Aí falha uma, duas vezes seguidas (como, aliás, já falhou muitas outras vezes) e uma turba enloquecida corre em desespero para ver quem tem a tirada mais engraçada. E também essa corrida tem lá a sua graça.

Mas o melhor para mim veio na segunda, logo depois da goleada no clássico. Apareceu um professor substituto por aqui. Londrino, mas de família liverpodliana, ele me explica ao justificar ser torcedor do Liverpool. Do Liverpool e do São Paulo, ele logo acrescenta, sem ainda saber que sou são-paulino. Tento entender. Ele me diz que isso vem de criança, e que sempre admirou um cara que ele considera extremamente injustiçado: Rogério Ceni. "Como ele pode ser apenas o terceiro goleiro da seleção brasileira?", ele me pergunta, e eu respondo que hoje ele já não é. O professor não se conforma, mas a revelação me traz uma alegria que nem todos compreenderão. Os são-paulinos, sim.

18 junho 2011

Um trem daqui a cem anos

Quando eu era criança eu gostava de assistir a uma série de tevê norte-americana chamada Amazing Stories. Quem tem trinta e poucos ou mais deve se lembrar. Passava na Globo tarde da noite. Perdi vários episódios por causa do horário. Eram contos fantásticos situados no interior dos Estados Unidos.

Me lembro especialmente de um deles, em que uma família compra uma casa. Quando o pai vai visitar o filho, o velho fica preocupado porque a construção supostamente estaria sobre os trilhos de uma extinta linha de trem. A tensão aumenta quando o velho começa a dizer que um trem que ele perdera no passado estaria a caminho para buscá-lo. A preocupação do velho é com a iminente destruição da casa, já que o trem atropelaria tudo o que estivesse em sua frente. A preocupação da família é com a saúde mental do idoso. O homem e sua esposa, é claro, não acreditam nele. O único que confia nas palavras do velho é o neto, orgulhoso e impressionado com o avô. O final é previsível, mas belíssimo, com o trem invadindo a casa para resgatar aquele passageiro atrasado.

Nessa mesma época, todo fim de semana minha família costumava ir para Itu, onde moravam meus avós maternos. Minha alegria era imensa ao encontrar o meu avô, Benedito Galera, figura que me impressionava tanto quanto o velho da história. Claro que na época eu não fazia essa associação. Ainda bem. Gostava do meu avô pelo que ele era, pelo que ele me fazia e me contava. Havia sábados, entretanto, que chegávamos e não o encontrávamos. Logo sabíamos que ele tinha ido a Boituva visitar o seu pai quase centenário. 

Eu já não sei de onde partimos, se de Itu ou de Sorocaba. Tenho quase certeza que foi de Sorocaba. O fato é que uma vez minha irmã, uma amiga de infância dela, eu e meu avô fomos para Boituva, de trem. Também não consigo me lembrar se já andara de trem, muito provavelmente sim, mas aquele era um passeio com o meu avô, e isso já tornava a viagem única. Andar de trem era demorado, por isso levamos lanche. Creio que fomos a pé da estação em Boituva até a casa do meu bisavô, Laudelino Galera, onde ficamos algum tempo. Almoçamos lá? Não me lembro. Havia um certo constrangimento naquela casa pobre de Boituva. Tudo era diferente da casa onde eu vivia. Não éramos ricos, mas podíamos notar as diferenças. Creio que, sendo criança, eu teria memória de um almoço na casa do meu bisavô, coisa que não tenho.

Na volta, à espera do trem, brincávamos no jardim em torno da estação quando eu perdi um dente. Nada grave. Eu já estava com o dente de leite solto, mole, prestes a cair. Me lembro que eu estava girando num poste de luz quando me dei conta: o dente tinha desaparecido. Ainda fiquei um tempo olhando o jardim, na tentativa inútil de encontrá-lo. Não mais.

Ah, sim, agora eu me lembro. Tomamos um trem em Itu até Sorocaba e de lá fomos para Boituva. Não havia trens ligando as duas cidades. Tanto tempo... Nunca esqueço da minha mãe perguntado como foi a viagem. E meu avô: "ah, foi tranquila, mas o Vinicius pedia toda hora para o maquinista parar o trem para que ele pudesse contar os dormentes..."

Hoje, aqui em Londres, eu encontrei um box com aquelas amazing stories. Fui assistir e justamente o primeiro episódio era a história do trem. O problema é que o filme foi dirigido pelo Steven Spielberg. Quem viu um filme do Spielberg na infância vai entender do que estou falando. Na cena em que o trem invade a casa, o velho fica numa alegria triunfante. Então ele vai se despedir do neto e, ao abraçar a criança, diz: "vejo você daqui a cem anos". Na hora me vieram as lembranças do seu Galera. Fiquei com os olhos marejados. Ele pegou o seu trem em 1994, mas até hoje, volta e meia, ressurge como uma história, uma lição ou uma gargalhada. 

Tanta coisa para dizer, principalmente para perguntar. Cem anos é muito tempo, mas depois disso teremos todo o tempo que precisarmos.

E trens, eu sei, têm sempre um destino certo.

14 junho 2011

Olhe para trás com raiva

Há anos, eu li em algum lugar que uma casa de Londres ostentava uma pequena placa dizendo que ali vivera o grande James Joyce. O artigo ressaltava que, ainda que por um curto período, a casa fora habitada pelo autor de Ulisses e, por isso, era digna de referência.

De fato, os londrinos têm o hábito de referenciar os lugares da cidade onde viveram homens notórios. Logo no meu primeiro dia na cidade, eu caminhava pela região central quando, por acaso, deparei com uma casa onde viveu Simón Bolívar. A mesma desde o século XVIII. Construção e memória preservadas. Fiquei impressionado.

Quando eu era adolescente, eu gostava muito de uma banda inglesa, o Oasis. Eu cantava e traduzia um dos hits, “Don’t look back in anger”, sem saber que, como muita coisa do Oasis, a letra fazia referência a uma peça, “Look back in anger”.

Ontem, a caminho da minha aula, eu descobri que passava pela rua onde nasceu o autor da peça, John Osbourne. A Crookham Road (foto acima) é uma via tranqüila de Fulham, o bairro onde estudo. A casa  fica a cerca de vinte metros da escola. Osbourne foi um autor iconoclasta que questionou a imensa tradição inglesa. Traduzida como “olhe para trás com raiva”, essa peça de inspiração autobiográfica acabaria marcando o teatro inglês ao retratar a geração do pós-guerra, que crescia sem esperança numa sociedade conservadora.

A tradição liberal inglesa engloba artistas e políticos questionadores. E mesmo que suas criações e aspirações se voltem contra a sociedade em que viveram, eles poderão ser sempre lembrados. Com uma discrição típica.

26 maio 2011

A verdade sobre o Código Florestal

O deputado Aldo Rabelo, do PCdoB de SP, é um homem sério, vejam os vincos na sua testa. Sempre lutou por causas bem intencionadas, como o veto aos estrangeirismos na língua portuguesa. Se pudesse, ergueria um muro em torno da língua. De uns anos pra cá, movido pelo fervor ufanista, resolveu encabeçar uma discussão que remonta aos primeiros tempos do Brasil: a produção agrícola e o desmatamento.

Ontem, depois de meses de negociação, seu relatório que propõe alterações no Código Florestal finalmente foi aprovado pela nobre instituição da Câmara dos Deputados, composta em sua maioria por homens sérios e honrados, interessados todos num único ideal: o desenvolvimento do Brasil.

Há dezenas de argumentos contrários e favoráveis ao código. A regra é dizer: assim é o processo democrático. Bonito, soa bem. Também soa bem dizer que os produtores são os primeiros ambientalistas, que ninguém mais do que eles entende a importância da preservação ambiental. Pouca gente diz, entretanto, que são os primeiros desmatadores, que ninguém mais do que eles está interessado em ocupar vastas áreas de florestas para dar lugar a uma gananciosa produção financiada por grandes grupos e interesses estrangeiros e voltada para o mercado externo. Há exceções, sempre as há. Mas essas não interessam, pergunte à Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA).

Um dos mais fortes chororôs dos produtores irregulares é que foram incentivados a desmatar pelo próprio governo no passado. Agora, deveriam ser incentivados a aprender com a História. Os senhores escravistas também foram incentivados pelo governo imperial a comprar escravos até que um dia, a História lhes disse: encontrem outro meio. O mesmo se dá agora.

Em meio à repercussão negativa do projeto, o nacionalista Aldo Rebelo diz que a sociedade civil brasileira, com suas associações científicas, a mídia e até a presidenta Dilma, que já fala em veto, estão desinformados. Argumenta que não há “dispositivos” como área de preservação permanente em países que já desmataram tudo o que podiam desmatar e que hoje financiam ONGs prontas a defender o meio ambiente no Brasil, sobretudo na Amazônia. Outro ponto que levanta é que em estados como São Paulo, onde praticamente toda a cobertura natural foi retirada, a produção teria de parar.

Relembrando o grande cronista, somente os lorpas e os pascácios cairiam nessa. Com sua figura que em muito lembra a de Plínio Salgado, Aldo Rebelo se convenceu de que os verdadeiros nacionalistas são os produtores rurais, que há quinhentos anos produzem para aqueles mesmos países que ele gosta de acusar de interferirem nos nossos rumos. Nada mais brasileiro.

14 abril 2011

Gerações são-paulinas

Há algumas semanas meus pais estiveram em Aracaju. Na excursão, conheceram um corintiano. Ao ver que meu pai, com seus 63 anos, é são-paulino, o mosqueteiro estranhou. Professor de história, ele quis saber das origens familiares do seu Nilton. Como muitos paulistas, temos entre os ascendentes pelo menos um italiano, no caso dele a avó. Associação imediata, o corintiano inquiriu que ele devia ser palmeirense.

Sem perder tempo, meu pai apenas lembrou de Leônidas, que brilhou no Tricolor na mesma época em que ele nasceu, a década de 1940, quando o São Paulo ganhou cinco títulos paulistas responsáveis pelo crescimento da torcida. Mas o São Paulo não nasceu com o Diamante Negro. Cresceu. Muito, é fato. O que o meu pai não disse é que o pai dele também era são-paulino. E se era, é muito provável que seja devido a uma predileção pelo Paulistano, que brilhou na década de 1920. As origens do Tricolor estão no Glorioso clube do jardim América. O professor de história poderia ter se informado melhor.

O que eu quero dizer é que há gerações de são-paulinos. E uma delas, pelo menos, é célebre. A geração de Pablo Forlán. Se o São Paulo tem a tradição de um Paulistano (“As tuas ‘glórias’ vêm do passado”), os títulos e a torcida de um Leônidas, tem a grandeza da geração de Pablo Forlán. O pai do melhor jogador da última Copa atuou no Tricolor entre o final dos anos 60 e começo da década seguinte. E foi justamente esse o período em que o São Paulo voltou a ser grande.

Porque a história Tricolor pode ser dividida em quatro partes, pelo menos: as origens paulistanas e a luta pela existência que lhe renderam a alcunha de “Clube da Fé”, a década de ouro do time de Leônidas, a parada estratégica para a construção do Morumbi e a retomada justamente nos anos 70, quando o São Paulo teve Gerson, Forlán e, principalmente, Pedro Rocha.

Forlán pai era um lateral direito mais conhecido pela raça uruguaia e pela entrega em campo do que pelas qualidades técnicas. Por isso, é um dos grandes ídolos da torcida. Tem e sempre teve uma enorme identificação com o Tricolor. Seu filho, Diego, jamais atuou no Brasil. Fez carreira na Espanha, onde há anos brilha no Atlético de Madrid. Seu auge foi a Copa da África do Sul, quando, atuando mais no meio de campo do que no ataque, foi eleito o melhor do torneio.

Agora, a diretoria do São Paulo, cumprindo a tradição de ousadia na contratação de grandes, vai atrás de Diego Forlán. Natural que ele jogue e queira jogar no São Paulo, como já declarou mais de uma vez. Afinal, é o time da família. A contratação ainda não está fechada, mas, pelo que se noticia, tem tudo para dar certo. Também pelo histórico, mesmo que a história possa nos enganar de vez em quando.

Se vier, Diego Forlán cumprirá a uma só vez três tradições tricolores: a contratação de grandes craques como Leônidas e Pedro Rocha, a raça uruguaia de jogadores como Forlán e Pedro Rocha, e o clássico jogador de ataque, que sabe tratar a bola, como Leônidas e Pedro Rocha.

A festa no Morumbi será ainda maior que a de Luís Fabiano. E a diretoria, que tem aspirações de se eternizar pelos mandatos, pode se eternizar pela montagem de mais um time brilhante, como tantos que o São Paulo montou ao longo dos seus mais de oitenta anos de tradição. 

12 abril 2011

É azul

Yuri Gagarin foi para o espaço e fez uma revelação maravilhosa. Sim, estou falando da primeira viagem espacial realizada por um homem. Volta e meia, penso nisso.


A frase vai longe, mas passou à História no exato momento em que foi dita. Hoje, falar em conquista do espaço é absurdo, mas falar em navegação espacial não é. Que o digam os pouquíssimos milionários que se enfiam numa nave rumo ao vazio. Nestes tempos de Columbias e de Discoveries, fico até um pouco entediado em acompanhar esses programas espaciais destinados a pesquisas essencialmente pragmáticas e burocráticas. Alguém pode dizer que, com tantos bilhões de dólares envolvidos, nãocomo ser diferente. Pode ser. E também, como imaginar uma viagem mística? Lembram do Contato, do filme? Eu nunca esqueço da personagem da Jodie Foster dizendo: - “Deviam ter mandado um poeta!” E o Gagarin foi poético.

Os soviéticos largaram na frente na corrida espacial. Mandaram insetos e até uma cadela para o espaço. Na minha infância, durante a década de 1980, ainda era comum encontrarmos cachorras “Laikas” em homenagem àquele mamífero pioneiro que jamais voltou a Terra. Em 1961, finalmente chegou a vez de um homem. Os americanos, na época correndo atrás dos soviéticos, obteriam seu feito histórico quase dez anos mais tarde, quando Neil Armstrong pisou a Lua. Mas, talvez tentando ser mais célebre que Gagarin, Armstrong deu o passo com uma fala pronta, retórica. Gagarin foi mais puro, porque encantado. Em pouco mais de uma hora, circundou nosso planeta e, siderado, constatou algo fantástico. Então, disse apenas o que viu, o que sentiu, o que o encantou naquele momento. A simples e bela revelação: - “A Terra é azul!”

(Escrito em 30 de novembro de 2005. Na época, foi publicado no blog “Conversas Paralelas” - http://www.entrevistos.blogspot.com/)

'Pilatos', de Carlos Heitor Cony, simboliza o Brasil de Delfim Netto

Pilatos , romance de Carlos Heitor Cony publicado em 1974, pode ser lido como um retrato do Brasil de Delfim Netto, um dos artífices da dita...