Hoje eu acordei com uma sensação estranha, uma espécie de nostalgia que eu não me preocupei em entender de onde vinha. Então me pus a ouvir uma das minhas canções preferidas. Não costumo ouvi-la, já ouvi muito e prefiro me lembrar dela. Mas hoje eu ouvi.
Aí, eu me lembrei porque a evito. Tem uns versos lá que me fazem chorar. Sou meio emotivo e quase não aguentei. Estava lavando louça, um dos poucos afazeres domésticos que não me desagradam, e me segurei. Que besta, pensei, enquanto enxaguava os copos. Lavava os pratos e pensava não na música e sim no que ela significa para mim.
Porque aquela sonoridade antiga, aquelas vozes e sotaques caipiras me lançam instantaneamente para uma casinha simples da Vila Santa Terezinha, em Itu. Para uma época que parecia que não ia acabar nunca e que, talvez justamente por isso, se tornou mágica. Como tudo, porém, ela passou e então um dia nos pegamos lavando louças e chorando diante da melodia que gostamos.
Uma música levou a outra e eu fui me lembrando especialmente da minha avó, que sorria docemente ao ouvir os falsetes do Milton Nascimento na gravação do Pena Branca e Xavantinho para o Cio da Terra. Então veio o inevitável, o dia com sua carga de exigências. Segui para o trabalho carregando aquela sensação de nostalgia.
Comi com os colegas num restaurante que tinha um tempero familiar, mas não estabeleci relação em momento algum. Eu já nem me lembrava que ficara nostálgico pela manhã quando agora à noite vi que minha mãe fez uma postagem que me revelou tudo. Ela já tinha dito ontem, mas eu me esqueci. Por mais que eu me esforce, sempre me esqueço de quase tudo. E minha mãe postou a foto do pai dela, meu Vô Dito ou Seu Galera, como também o chamavam.
Hoje ele faria 95 anos. Se foi há muito tempo, eu era pouco mais que um menino, mas como me esquecer? Vô Dito é o homem mais incrível e o personagem mais rico que eu conheci. Não importa quantos livros eu leia ou quantas pessoas eu conheça, meu avô é a minha fonte inesgotável de mitos.
Comi com os colegas num restaurante que tinha um tempero familiar, mas não estabeleci relação em momento algum. Eu já nem me lembrava que ficara nostálgico pela manhã quando agora à noite vi que minha mãe fez uma postagem que me revelou tudo. Ela já tinha dito ontem, mas eu me esqueci. Por mais que eu me esforce, sempre me esqueço de quase tudo. E minha mãe postou a foto do pai dela, meu Vô Dito ou Seu Galera, como também o chamavam.
Hoje ele faria 95 anos. Se foi há muito tempo, eu era pouco mais que um menino, mas como me esquecer? Vô Dito é o homem mais incrível e o personagem mais rico que eu conheci. Não importa quantos livros eu leia ou quantas pessoas eu conheça, meu avô é a minha fonte inesgotável de mitos.
Ele contava histórias de assombração, inventava causos sobre as vizinhas fofoqueiras, implicava e brincava com a obesidade do padre Chico, se irritava com o vendedor de sorvete que o acordava com uma gaitinha de plástico nas tardes de sábado, mas era sempre bom, justo e correto. Quando ia dizer que algo era longe, dizia que era pra lá do Orestes, uma região da cidade que, por mais que localizem, me parece também ela inventada.
Já escrevi sobre o Vô Dito antes, mas sei que textos como este não dão conta dele. Seu Galera merece muito mais e espero um dia ser capaz de corresponder a tudo o que ele me deu. Penso nesse sobrenome que também carrego e que se tornou uma gíria que eu mesmo uso, inadvertidamente. A palavra generosa, agregadora, ajuda, mas também é insuficiente, é claro.
Quem tiver dúvida, basta ir lá na Vila Santa Terezinha, bem antes do Orestes, em Itu, e perguntar para os mais velhos ou para o pessoal da minha idade que conviveu com ele e que ele tinha como filhos e netos. Garanto que todos terão histórias incríveis sobre aquele homem imenso. Lá, assim como aqui e no coração de minha mãe, seu Benedito está vivo, não tenho a menor dúvida. Então, hoje, só me resta desejar: feliz aniversário, vô.