Alan Moore sabia o que estava fazendo quando escreveu "V de Vingança" ("V for Vendetta" no original"). Ao retomar a figura histórica de Guy Fawkes, o conspirador que colocou barris de pólvora no parlamento inglês em 1605, em uma atitude que até hoje divide os ingleses, ele estava questionando o destino histórico da Inglaterra de Margareth Thatcher e alertando para os perigos de uma sociedade que caminhava para o liberalismo com extrema vigilância.
Não por acaso, anos depois da publicação na Inglaterra em 1982, Londres se tornaria uma das cidades mais vigiadas por câmeras em todo o mundo. Não por acaso, os Estados Unidos, a nação símbolo da liberdade, se veriam embaraçados por bisbilhotar a vida privada de seus cidadãos.
Para escrever sua distopia ilustrada por David Lloyd, Moore recorreu a inúmeras fontes, mas o que sobressai é o clássico "1984", de George Orwell que, aliás, inspirou dezenas de obras semelhantes que abordam a vigilância nos sistemas totalitários.
O romance gráfico foi adaptado por Hollywood em 2006, o que não agradou ao anarquista Moore. Mas foi certamente a partir daí que a obra se tornou popular, o que ficaria evidente com a crise financeira de 2008. Nas manifestações que ainda tomam conta da Europa e de outros continentes há sempre dezenas de máscaras do herói "V" desafiando parlamentos e homens representativos, nem sempre de modo simbólico.
Lembro de uma entrevista que Moore deu ao Guardian em 2011 dizendo como se sentia orgulhoso das garotas e garotos que se manifestavam sob a máscara. Na obra, com o risco de serem identificados e presos, os manifestantes formam uma massa compacta com o mesmo rosto que desafia o poder. "Por trás desta máscara há mais do que carne. Abaixo desta máscara há uma ideia, e ideias são à prova de bala".
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