Meu tio Alonso anda intrigado com a minha reação diante das manifestações que tomaram as ruas do Brasil nestes dias.
– Não era você que vivia reclamando que o povo não ia às ruas? – ele perguntou.
– Mas a coisa já está ficando sem controle.
– É quase impossível controlar a massa, os protestos são legítimos.
Tio Alonso lutou contra a ditadura. Ele viveu na clandestinidade no período mais duro do regime, chegou a ser preso e torturado. Por isso apoia toda e qualquer manifestação popular.
– O que acha que podia acontecer se os manifestantes invadissem o Congresso ou até mesmo o Planalto, tio?
– Provavelmente uns seriam repelidos, outros presos.
– Mas e se, num extremo, eles se vissem cara a cara com a presidenta, o que fariam? (Tio Alonso gosta muito da língua portuguesa, por isso com ele fico à vontade para usar a palavra no feminino sem sentir aquele olhar enviesado que os críticos direcionam para Dilma.)
– Não dá pra saber, mas, mesmo num ato de radicalismo extremo, a democracia seria fortalecida.
– Sei não... E a expulsão dos militantes de partidos das passeatas?
– Esses jovens foram criados ouvindo todo mundo falar em corrupção generalizada, em falta de investimentos em saúde e educação. Também não têm educação ou formação política, são muito midiatizados. Além do mais, nossa sociedade é muito conservadora. Eles vão aprender que os partidos são apenas a organização das vozes divergentes da comunidade da qual eles fazem parte. Em sociedades como a nossa, não dá pra haver representação individual. O que é preciso é uma reforma política.
Otimista o tio Alonso. Eu confesso que ando bastante preocupado com as manifestações totalitárias e a falta de direcionamento dos manifestantes. Tio Alonso diz pra eu não me preocupar.
- E se a repressão à violência justificar uma intervenção militar? E se vier uma ditadura? – eu insisti.
- Difícil, mas saberemos como combatê-la.
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