1. Voltar a estátua de frente para o mar. É provável que o poeta dê as costas ao oceano em nome da verossimilhança. Nada mais inverossímil para um estátua. Assim, as pessoas que passassem pelo calçadão teriam menos tempo para pensar em arrancar os óculos de Drummond. Quem sabe, se sentariam ao seu lado em contemplação.
2. Mandar a estátua para uma praça de Itabira. Apesar do prejuízo de não ter o mar por perto, o que para a estátua não faria a menor diferença, é quase certo que os conterrâneos do poeta a tratariam melhor do que os passantes de Copacabana.
3. Retirar de vez os óculos de bronze. Deixar o poeta de bronze ver com seus olhos livres. De bronze.
4. Não tomar a estátua pelo próprio poeta. Deixá-la ali, sentada, sujeita ao acaso, ao vandalismo, esquecida e abandonada como milhares de monumentos.
5. Abandonar de vez a mimese e produzir uma estátua extraordinária em que os óculos não tivessem braços ou brechas e fossem fixados à cabeça de modo a ser impossível a retirada. A estátua, aliás, já está ganhando ares grotescos com os tumores provocados pelos maçaricos e pelos enxertos de metal nas têmporas.
6. Retirar a estátua do calçadão e, no lugar, colocar livros de Drummond com a sugestão de que sejam devolvidos como numa biblioteca circulante.
7. Substituir os óculos de bronze por óculos de plástico ou de outro material descartável. A prefeitura ou uma empresa poderia promover e explorar o marketing. As armações seriam "apropriadas" pelos passantes e, eventualmente, repostas pela administração. Isso geraria um ambiente de expectativa e de descontração em que alguns sortudos poderiam dizer, com alegria: "Consegui pegar os óculos do Drummond!"
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