Gostava da imagem de Sócrates. Nunca vi, em toda a minha vida, um ex-jogador tão peculiar. Que era um craque ninguém duvida, mas eu gostava de vê-lo falando, sempre com opiniões inteligentes e audaciosas, não raro chocantes justamente porque iam de encontro ao senso comum.
Sócrates era um engajado. Me lembro dele nos últimos Cartões Verdes que assisti dizendo como escreveria um romance sobre a próxima Copa do Mundo no Brasil em que a seleção, como nas Copas em que ele mesmo participou, outra vez perderia o título no Maracanã. Era um provocador que sonhou presidir a CBF, algo tão utópico quanto ele mesmo e seus ideais, mas que, como lembrou Paulo Vinícius Coelho, nunca se omitiu.
Num país em que poucas coisas são mais importantes do que o futebol, tivemos a sorte de ter, entre tantos craques, um Sócrates que sempre que pôde fez questão de mostrar às massas que tudo depende da política, que nem tudo é futebol. Talvez pelo velho estigma brasileiro de achar que cada coisa deve ocupar o seu lugar, que um jogador de futebol não deve se envolver ou mesmo falar sobre política (um discurso por si só controlador e contrário à liberdade individual), Sócrates, com seu jeito relaxado e direto, foi, sobretudo nos últimos anos, uma espécie de anti-herói. E ainda aqui mais uma vez temos o Brasileiro.
Sócrates era uma figura estranha, um corpo estranho que nos gramados improvisou o calcanhar para compensar a lentidão e que, fora deles, improvisou um discurso favorável à liberdade do indivíduo e à afirmação do povo ao qual pertencia. E essa, a meu ver, foi a sua grande contribuição.
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