Costumo brincar que sou um homem do século XIX. Sempre gostei de livros e de jornais em seus formatos tradicionais. Vivo comprando livros usados ou novos, leio muitos, outros não, vendo, troco, doo, guardo cadernos inteiros ou recortes de jornais durante anos e depois jogo fora, me perco em meio a papeizinhos com anotações diversas e por aí vai. Por isso, quando cheguei aqui, fui correndo procurar uma livraria.
Antes, no metrô, eu tinha visto os meus primeiros Ipads e Kindles, uma visão empolgante que até hoje me deixa maravilhado. No Tube, como os londrinos chamam o metrô, eles usam celulares e smartphones para acessar a internet, falar e mandar mensagens o tempo todo. Claro está que eles também lêem muito. Normalmente bestsellers e jornais como o centenário e gratuito Evening Standard, muito concorrido nas principais estações no fim do expediente. Eles lêem e deixam sobre os bancos ao sair, como um presente para o próximo passageiro. Eu, por exemplo, já lamento quando entro no vagão e não encontro um jornal.
No meu segundo dia, entrei numa livraria na Tottenhan Court Road, onde fui descobrindo as edições originais ou traduzidas dos autores que conheço. Duas coisas logo me chamaram a atenção: a meticulosa classificação dos romances (“Ficção de A a Z”, “Clássicos”, “Bestsellers”, “Crime e Mistério” e “Ficção Científica”) e as edições das obras propriamente. Ao contrário do Brasil, onde comprar um título de um Philip Roth, por exemplo, pode ser tão caro quanto um jantar com a namorada, por aqui a maioria das edições são em brochura (paperback), e o papel tem a qualidade do papel-jornal. Os livros, que custam quase sempre £ 7,99 (algo em torno de 25 reais) são feitos para serem lidos em qualquer lugar, e não para serem cultuados e guardados como objetos de desejo. Se você quiser um acabamento melhor, vai ter de procurar uma edição de capa dura (hardback ou hardcover). Existe, mas não é tão comum na ficção geral e nos clássicos. São mais freqüentes nos lançamentos de grandes autores e em edições comemorativas. Já os principais bestsellers e muitos dos livros de crime normalmente são encontrados nas duas versões, o que dá a dimensão de como são obras colecionáveis.
É muito bom ver que os livros não têm tanto glamour. Assim, o Philip Roth, o Vargas Llosa, o Dickens ou qualquer outro autor sério é simplesmente tratado como mais um autor sério e, talvez por isso mesmo, acessível: sucucedem-se as reimpressões. Nesse contexto, é interessante notar a sedução do livro digital. Diferente do Brasil, onde o mercado do livro barato (sinônimo de livro de bolso) está crescendo somente agora, aqui eles já têm um mercado mais do que consolidado de edições baratas (não só de bolso). Isso tudo, fenômeno do desenvolvimento, justifica a ascensão do livro e dos leitores digitais. Já que as edições em paperback são muito próximas do descartável, por que ocupar tanto espaço nas estantes quando se pode ter versões digitais e ainda mais baratas? Eu, particularmente, não acredito no fim do livro impresso nem a longo prazo, como também não creio no fim do jornal, mas fica cada vez mais evidente que tanto um como outro terão um escoamento bem diferente daqui a algumas décadas.
Mas, como o animal do século XIX que sou, no dia seguinte encontrei outra livraria na Oxford Street, onde procurei cuidadosamente um livro que combinasse uma série de exigências: uma história curta, já que meu inglês exigiria muito tempo de leitura, uma edição barata que pudesse ser manuseada facilmente em qualquer lugar e um clássico da literatura de língua inglesa. Depois de alguma hesitação, pequei um “Daisy Miller”, do Henry James, por duas libras. No caixa, expliquei para o excêntrico vendedor que aquele era o meu primeiro livro em inglês. A reação foi espontânea. Ele abriu um grande sorriso, pegou o livro e o beijou, antes de me desejar boa sorte. E o gesto me revelou uma longa e duradoura relação.
Antes, no metrô, eu tinha visto os meus primeiros Ipads e Kindles, uma visão empolgante que até hoje me deixa maravilhado. No Tube, como os londrinos chamam o metrô, eles usam celulares e smartphones para acessar a internet, falar e mandar mensagens o tempo todo. Claro está que eles também lêem muito. Normalmente bestsellers e jornais como o centenário e gratuito Evening Standard, muito concorrido nas principais estações no fim do expediente. Eles lêem e deixam sobre os bancos ao sair, como um presente para o próximo passageiro. Eu, por exemplo, já lamento quando entro no vagão e não encontro um jornal.
No meu segundo dia, entrei numa livraria na Tottenhan Court Road, onde fui descobrindo as edições originais ou traduzidas dos autores que conheço. Duas coisas logo me chamaram a atenção: a meticulosa classificação dos romances (“Ficção de A a Z”, “Clássicos”, “Bestsellers”, “Crime e Mistério” e “Ficção Científica”) e as edições das obras propriamente. Ao contrário do Brasil, onde comprar um título de um Philip Roth, por exemplo, pode ser tão caro quanto um jantar com a namorada, por aqui a maioria das edições são em brochura (paperback), e o papel tem a qualidade do papel-jornal. Os livros, que custam quase sempre £ 7,99 (algo em torno de 25 reais) são feitos para serem lidos em qualquer lugar, e não para serem cultuados e guardados como objetos de desejo. Se você quiser um acabamento melhor, vai ter de procurar uma edição de capa dura (hardback ou hardcover). Existe, mas não é tão comum na ficção geral e nos clássicos. São mais freqüentes nos lançamentos de grandes autores e em edições comemorativas. Já os principais bestsellers e muitos dos livros de crime normalmente são encontrados nas duas versões, o que dá a dimensão de como são obras colecionáveis.
É muito bom ver que os livros não têm tanto glamour. Assim, o Philip Roth, o Vargas Llosa, o Dickens ou qualquer outro autor sério é simplesmente tratado como mais um autor sério e, talvez por isso mesmo, acessível: sucucedem-se as reimpressões. Nesse contexto, é interessante notar a sedução do livro digital. Diferente do Brasil, onde o mercado do livro barato (sinônimo de livro de bolso) está crescendo somente agora, aqui eles já têm um mercado mais do que consolidado de edições baratas (não só de bolso). Isso tudo, fenômeno do desenvolvimento, justifica a ascensão do livro e dos leitores digitais. Já que as edições em paperback são muito próximas do descartável, por que ocupar tanto espaço nas estantes quando se pode ter versões digitais e ainda mais baratas? Eu, particularmente, não acredito no fim do livro impresso nem a longo prazo, como também não creio no fim do jornal, mas fica cada vez mais evidente que tanto um como outro terão um escoamento bem diferente daqui a algumas décadas.
Mas, como o animal do século XIX que sou, no dia seguinte encontrei outra livraria na Oxford Street, onde procurei cuidadosamente um livro que combinasse uma série de exigências: uma história curta, já que meu inglês exigiria muito tempo de leitura, uma edição barata que pudesse ser manuseada facilmente em qualquer lugar e um clássico da literatura de língua inglesa. Depois de alguma hesitação, pequei um “Daisy Miller”, do Henry James, por duas libras. No caixa, expliquei para o excêntrico vendedor que aquele era o meu primeiro livro em inglês. A reação foi espontânea. Ele abriu um grande sorriso, pegou o livro e o beijou, antes de me desejar boa sorte. E o gesto me revelou uma longa e duradoura relação.
Vina meu amigo...saudades primeiramente....vc faz falta...faz muita falta conversar com alguém que tenha mais de dois neurônios no cérebro naquele lugar...enfim....feliz por você...de verdade...agora....sobre a leitura...dá até uma inveja da relação de outros povos com a leitura...seja ela qual for...abs amigo
ResponderExcluirGrande Vinícius, ainda me lembro de ter entrado na copa pra tomar um café e vê-lo com um livro sobre a vida de Buñuel (ou era Fellini?) ... Belo relato, meu velho! Se cuida por aí! abraços
ResponderExcluirGrande Zecchin! Também sinto falta das nossas conversas, velho. Agora, sobre a leitura, realmente aqui na Europa é outra coisa, né... Não que a gente já não soubesse. Mas tenho esperanças no Brasil. Abraço!
ResponderExcluirRubão, quanto tempo, cara! Como você está? Aquela vez na copa era um livro do Buñuel, mas claro que podia ser do Fellini também... Grande abraço!
Suas histórias, seus relatos são dignos de admiração. Incrível como vejo duas pessoas me contanto a mesma história e incrível também como adoro entendê-las, conhecê-las....
ResponderExcluirAcho realmente que você tem tudo a ver com o contexto, com essa enxurrada de sensações que está se permitindo viver...