O deputado Aldo Rabelo, do PCdoB de SP, é um homem sério, vejam os vincos na sua testa. Sempre lutou por causas bem intencionadas, como o veto aos estrangeirismos na língua portuguesa. Se pudesse, ergueria um muro em torno da língua. De uns anos pra cá, movido pelo fervor ufanista, resolveu encabeçar uma discussão que remonta aos primeiros tempos do Brasil: a produção agrícola e o desmatamento.
Ontem, depois de meses de negociação, seu relatório que propõe alterações no Código Florestal finalmente foi aprovado pela nobre instituição da Câmara dos Deputados, composta em sua maioria por homens sérios e honrados, interessados todos num único ideal: o desenvolvimento do Brasil.
Há dezenas de argumentos contrários e favoráveis ao código. A regra é dizer: assim é o processo democrático. Bonito, soa bem. Também soa bem dizer que os produtores são os primeiros ambientalistas, que ninguém mais do que eles entende a importância da preservação ambiental. Pouca gente diz, entretanto, que são os primeiros desmatadores, que ninguém mais do que eles está interessado em ocupar vastas áreas de florestas para dar lugar a uma gananciosa produção financiada por grandes grupos e interesses estrangeiros e voltada para o mercado externo. Há exceções, sempre as há. Mas essas não interessam, pergunte à Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA).
Um dos mais fortes chororôs dos produtores irregulares é que foram incentivados a desmatar pelo próprio governo no passado. Agora, deveriam ser incentivados a aprender com a História. Os senhores escravistas também foram incentivados pelo governo imperial a comprar escravos até que um dia, a História lhes disse: encontrem outro meio. O mesmo se dá agora.
Em meio à repercussão negativa do projeto, o nacionalista Aldo Rebelo diz que a sociedade civil brasileira, com suas associações científicas, a mídia e até a presidenta Dilma, que já fala em veto, estão desinformados. Argumenta que não há “dispositivos” como área de preservação permanente em países que já desmataram tudo o que podiam desmatar e que hoje financiam ONGs prontas a defender o meio ambiente no Brasil, sobretudo na Amazônia. Outro ponto que levanta é que em estados como São Paulo, onde praticamente toda a cobertura natural foi retirada, a produção teria de parar.
Relembrando o grande cronista, somente os lorpas e os pascácios cairiam nessa. Com sua figura que em muito lembra a de Plínio Salgado, Aldo Rebelo se convenceu de que os verdadeiros nacionalistas são os produtores rurais, que há quinhentos anos produzem para aqueles mesmos países que ele gosta de acusar de interferirem nos nossos rumos. Nada mais brasileiro.
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