14 junho 2011

Olhe para trás com raiva

Há anos, eu li em algum lugar que uma casa de Londres ostentava uma pequena placa dizendo que ali vivera o grande James Joyce. O artigo ressaltava que, ainda que por um curto período, a casa fora habitada pelo autor de Ulisses e, por isso, era digna de referência.

De fato, os londrinos têm o hábito de referenciar os lugares da cidade onde viveram homens notórios. Logo no meu primeiro dia na cidade, eu caminhava pela região central quando, por acaso, deparei com uma casa onde viveu Simón Bolívar. A mesma desde o século XVIII. Construção e memória preservadas. Fiquei impressionado.

Quando eu era adolescente, eu gostava muito de uma banda inglesa, o Oasis. Eu cantava e traduzia um dos hits, “Don’t look back in anger”, sem saber que, como muita coisa do Oasis, a letra fazia referência a uma peça, “Look back in anger”.

Ontem, a caminho da minha aula, eu descobri que passava pela rua onde nasceu o autor da peça, John Osbourne. A Crookham Road (foto acima) é uma via tranqüila de Fulham, o bairro onde estudo. A casa  fica a cerca de vinte metros da escola. Osbourne foi um autor iconoclasta que questionou a imensa tradição inglesa. Traduzida como “olhe para trás com raiva”, essa peça de inspiração autobiográfica acabaria marcando o teatro inglês ao retratar a geração do pós-guerra, que crescia sem esperança numa sociedade conservadora.

A tradição liberal inglesa engloba artistas e políticos questionadores. E mesmo que suas criações e aspirações se voltem contra a sociedade em que viveram, eles poderão ser sempre lembrados. Com uma discrição típica.

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