19 maio 2016

Boris Schnaiderman e José Agrippino de Paula


Na metade dos anos 1960, Boris Schnaiderman era professor da faculdade de letras da Universidade de São Paulo. Criador e titular do primeiro departamento de literatura russa do Brasil, esse ucraniano radicado no país colaborava com jornais paulistanos resenhando livros de autores novos e consagrados.

No apartamento da rua Dr. Veiga Filho, onde morava na capital paulista, do mesmo modo como já acontecera com Clarice Lispector no Rio, ele recebeu a visita de um jovem barbado e de figura impressionante chamado José Agrippino de Paula. A conversa foi rápida, mas Agrippino cumpriu o seu objetivo entregando ao professor os originais datilografados de um romance. Schnaiderman se comprometeu a ler o trabalho, o que fez em poucos dias.

A fórmula era original, mas o crítico não teve grande entusiasmo pela obra, que considerou mal realizada. Ciente de sua função, entretanto, percebeu que o livro era inovador e apontava caminhos. Enviou, então, o manuscrito para Ênio Silveira, responsável pela maior editora daquele tempo, a Civilização Brasileira, do Rio de Janeiro, que publicava os trabalhos de Shnaiderman como tradutor.

O editor encaminhou os originais para um dos principais escritores da casa, Carlos Heitor Cony. Cronista na imprensa carioca e autor filiado a um romance de temática burguesa, Cony deu o seu parecer ao editor: o livro merecia ser publicado. "Lugar público" saiu em 1965.

(Esse texto, ligeiramente alterado, faz parte do meu trabalho de conclusão do curso de jornalismo, "O Homem Hibernado, a vida de José Agrippino de Paula", de 2010. As informações me foram passadas pelo próprio professor em uma visita que lhe fiz naquele ano. Na ocasião, depois de falarmos sobre Agrippino, pedi que Schnaiderman me falasse de autores brasileiros contemporâneos. Ele recomendou a leitura de "Cine privê", de Antonio Carlos Viana. O professor Boris Schnaiderman morreu ontem, aos 99 anos, em São Paulo.)

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